Trump e Xi avaliam acordo – Foto: Mandel Ngan, Pedro Pardo / AFP
As autoridades chinesas sinalizaram nesta sexta-feira (2) que estão avaliando uma proposta dos Estados Unidos para retomar o diálogo sobre a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. No entanto, Pequim deixou claro que qualquer negociação só ocorrerá se Washington demonstrar boa-fé — o que, segundo o governo chinês, começa com o cancelamento das tarifas unilaterais impostas pela administração do ex-presidente Donald Trump.
Em nota divulgada pelo Ministério do Comércio, a China afirmou que os EUA deram os primeiros sinais de interesse em reabrir canais de diálogo. “Os Estados Unidos têm tomado a iniciativa, em diversas ocasiões, de transmitir à China o desejo de conversar”, diz o comunicado. Apesar disso, o governo chinês afirma que ainda está analisando a proposta e que qualquer avanço dependerá de ações concretas por parte dos americanos.
Desde 2018, Trump impôs sucessivas tarifas sobre produtos chineses — algumas chegando a 145% — em uma tentativa de reduzir o déficit comercial e pressionar a China em questões como propriedade intelectual e transferência de tecnologia. Em resposta, o governo chinês adotou tarifas retaliatórias de até 125% sobre importações americanas, dando início a um ciclo de tensão que afetou mercados globais e enfraqueceu setores industriais dos dois países.
“A posição da China sempre foi coerente: se for necessário lutar, lutaremos até o fim. Mas, se houver diálogo sincero, nossa porta está aberta”, declarou o ministério. A pasta também acusou Washington de incoerência e coerção, e rejeitou qualquer tentativa de negociação baseada em chantagem. “Dizer uma coisa e fazer outra, ou usar negociações como pretexto para pressão política, não funcionará”, alertou o comunicado.
Analistas interpretam o posicionamento chinês como uma tentativa estratégica de manter firmeza nas negociações, sem fechar a porta para uma possível reaproximação. Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, em Xangai, avalia que Pequim espera um gesto inicial de confiança por parte dos EUA. “Assim que as tarifas forem suspensas, poderemos discutir preocupações legítimas de ambos os lados”, disse.
Apesar do tom rígido, alguns especialistas veem na manifestação chinesa um possível sinal de abertura. Stephen Innes, da SPI Asset Management, afirmou que a fala representa “o primeiro ramo de oliveira” nesta longa disputa comercial, mas ressaltou que o caminho para um acordo permanece “minado de desconfianças”.
A guerra comercial tem afetado o desempenho das duas economias. Dados recentes apontam desaceleração da atividade industrial na China, especialmente em empresas voltadas para exportação. Nos EUA, o PIB apresentou uma contração inesperada no primeiro trimestre deste ano, acentuando as pressões políticas e econômicas sobre ambas as nações.
Por enquanto, as incertezas permanecem. Conforme ressalta Ja-Ian Chong, professor da Universidade Nacional de Singapura, “nenhuma das partes quer parecer fraca”, o que pode dificultar a retomada de um diálogo construtivo a curto prazo. fonte: A Tarde