Bactéria Haemophilus influenzae – Foto: Reprodução
O uso excessivo e muitas vezes indiscriminado de antibióticos na medicina humana e na agropecuária está provocando um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade: o avanço das chamadas superbactérias — microrganismos resistentes aos medicamentos mais potentes disponíveis. Esse fenômeno tem contribuído para infecções cada vez mais difíceis de tratar, resultando em um número crescente de mortes em todo o mundo.
De acordo com o mais abrangente levantamento global já realizado sobre o tema, o número de mortes atribuídas diretamente a infecções causadas por bactérias resistentes subiu de 1,06 milhão em 1990 para 1,14 milhão em 2021. E as projeções são ainda mais preocupantes: até 2050, esse número pode chegar a 1,91 milhão de óbitos por ano, caso medidas de controle e prevenção não sejam adotadas com urgência.
O estudo foi publicado pela revista The Lancet e conduzido por uma coalizão internacional de cientistas, incluindo pesquisadores brasileiros, dentro da iniciativa GBD 2021 Antimicrobial Resistance Collaborators. A análise envolveu dados de 204 países e territórios, cruzando informações sobre causas de morte, internações hospitalares, padrões de uso de antibióticos e os níveis de resistência de 22 espécies de bactérias a diferentes classes de antimicrobianos.
Além dos casos em que a infecção resistente foi a causa direta da morte, o estudo também contabilizou os óbitos em que a bactéria resistente estava presente, ainda que não tenha sido o fator determinante. Nessa categoria, os números são ainda mais expressivos: 4,78 milhões de mortes em 1990 e 4,71 milhões em 2021.
A estimativa total até 2050 é alarmante: 8,2 milhões de mortes por ano, acumulando cerca de 169 milhões de óbitos em todo o mundo nas próximas décadas. Para se ter uma ideia da gravidade, esse número supera a população de muitos países. A América Latina e o Caribe devem concentrar quase 10% das mortes globais por infecções resistentes nesse período.
O cenário representa um grave risco à medicina moderna, já que os antimicrobianos são essenciais para procedimentos como cirurgias, tratamentos oncológicos, transplantes e o cuidado com pacientes imunossuprimidos. “Os antimicrobianos são pilares da medicina moderna, e a crescente resistência a eles é motivo de grande preocupação”, alertou o epidemiologista Mohsen Naghavi, da Universidade de Washington, principal autor do estudo. “Compreender essas tendências é fundamental para formular políticas eficazes que salvem vidas.”
Diante da ameaça crescente, especialistas alertam para a urgência de ações globais coordenadas, que envolvam controle no uso de antibióticos, investimentos em novos medicamentos, políticas de vigilância, educação sobre o uso racional e melhorias no saneamento básico e no acesso à saúde, principalmente em países de baixa e média renda. fonte: A Tarde